O INFLAMADO CENÁRIO ATUAL



A imprensa internacional menos interessada em saber com quantas mulheres casará Ronaldinho Gaúcho e mais atenta às questões de ordem geopolítica tem buscado explicar o caso da paralisação protagonizada por caminhoneiros no Brasil. BBC, Deutsche Welle, The Guardian e Le Diplomatique, dentre outros, têm publicado matérias sobre a situação. Neste cenário, muitos têm direcionado a atenção para como os protestos dos caminhoneiros, considerados um misto de greve e de locaute por alguns sociólogos, trazem à tona problemas de décadas, como a falta de malha ferroviária e a extrema rodoviarização no país, implicando em um entrave que diz respeito à mobilidade urbana. Algo semelhante já aconteceu em outro país da América do Sul, Chile*, em 1972, e a greve durou quase um mês.
Há dados comparativos sobre quais países têm maiores valores de gasolina para venda interna e quais têm os menores. Segundo a BBC e o Global Petrol Prices, Venezuela**, Irã, Sudão, Kuwait e Argélia ficam com os menores, enquanto Hong Kong, Islândia, Noruega, Holanda e Dinamarca têm os maiores valores nestes últimos dias. Isto nos leva, portanto, ao segundo problema: falta de direcionamento da tributação a um Estado de bem-estar social, gerando sucateamento de serviços públicos básicos em um cenário de instabilidade política e de insatisfação social. Além disso, há mais de um ano os valores da gasolina e do diesel estão sendo reajustados incontrolavelmente no nosso país, sob política de preços internacionais, orientada por Pedro Parente, atual presidente da Petrobras.

Países mais caros e mais baratos para se encher o tanque de combustível – fonte: IndexMundi e Global Petrol Prices

Esta questão específica do petróleo leva a um terceiro problema: a falta de atenção da Petrobras às refinarias nacionais. O Brasil tem vendido petróleo "bruto" e comprado de volta após passar por refinarias internacionais, assim ajusta o valor de entrega com base no mercado internacional. Muitos países fazem este ajuste, na realidade, como Noruega, Islândia e Dinamarca, por exemplo. A questão é que estes países não têm capacidade para deixar de favorecer as importações - e o Brasil tem de sobra. Além do mais, há o problema do baixo investimento nos serviços fundamentais. Com base nos dados sobre os índices de IDH mundiais dos últimos anos, Noruega, Islândia e Dinamarca ficam comumente entre os países com melhores e mais acessíveis serviços públicos [saúde, educação e outros serviços básicos], o que não é o nosso caso, além de estamos com os investimentos nessas áreas congelados por longas duas décadas.
Por enquanto, não se sabe se vai acontecer alguma apropriação do movimento inicialmente grevista. De todo modo, o caso reflete ao menos esses problemas, aparentemente de três naturezas distintas, mas que relacionam sucateamento dos serviços públicos, necessidade de maior atenção para com empresas nacionais e pouca importância ao transporte ferroviário como fomentadores deste cenário à Mad Max.

* No Chile, o militarismo derrubou o Estado de Direito e deu início à ditadura considerada mais sangrenta da América Latina (http://memoria.ebc.com.br/…/ditadura-chilena-foi-uma-das-ma…)
** Valor por valor, a Venezuela não é bem um parâmetro de um Estado com serviços básicos. Prova disso é a massiva vinda de venezuelanos ao Brasil em busca de algo melhor https://brasil.elpais.com/…/…/opinion/1523393064_479158.html
Mais sobre a questão da malha ferroviária: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/05/25/Por-que-o-Brasil-abriu-m%C3%A3o-do-trem-e-ficou-dependente-do-caminh%C3%A3o
Mais sobre o cenário geral: http://www.dw.com/…/o-que-levou-à-alta-dos-combu…/a-43923825

Autoria Mylena Queiroz

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